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7 de novembro de 2022

Gamificação nas relações de trabalho: Vantagens e riscos

por CCHDC

Muito se tem falado sobre o crescimento do bilionário mercado de games. 

Tal ramo, ainda com traços lúdicos, carrega oportunidades concretas em setores que vão muito além da diversão e do lazer. 

Reflexo dos games, a gamificação é o uso de estratégias próprias dos games, especialmente dos jogos online, como uma ferramenta para impulsionar o jogador, seguindo o raciocínio aplicado aos jogos, no qual o indivíduo tem que cumprir determinado objetivo e/ou metas para receber determinadas recompensas. 

Além disso, encontro atraente que vem se observado é o da gamificação com as relações de trabalho. A ideia é interessante: consiste na adoção de métodos e estratégias dos games para estimular a produtividade e engajamento de colaboradores, fazendo com que o colaborador se sinta incentivado a atingir metas e resultados satisfatórios para a empresa, podendo alcançar premiações e o reconhecimento do empregador. 

A ideia de premiações e recompensas, apesar de não ser nova nas relações de trabalho, ganha traços diferentes pela gamificação, traços estes que exigem do empresário atento uma releitura de cuidados antigos com riscos trabalhistas. 

Métodos lúdicos de prêmios e incentivos não são novidade. A própria CLT prevê a possibilidade de remuneração por comissões, por produtividade, bem como por desempenho extraordinário. Além disso, há, ainda, a Lei da PLR, que também trata sobre um tipo de recompensa por produtividade. 

Contudo, a gamificação, porém, tanto por não encontrar uma previsão específica para sua existência, quanto por se tratar de uma estratégia que pode ser compreendida de forma menos “séria” pelo colaborador, merece, em razão disto, maiores cuidados na sua implementação.  

Neste novo cenário, para que o empresário não perca oportunidades de gerar um time mais engajado e com maior produtividade ao se utilizar de métodos vinculados à gamificação, é imprescindível que o empresário estabelece não só metas objetivas e regras bem estabelecidas, ainda que com ajuda e participação de inteligências artificiais, mas que tenha concretamente as balizas dos métodos utilizados, sob pena de enfrentar debates que podem ir muito além da já conhecida discussão da natureza das premiações previstas: se são ou não, verbas salariais. 

De forma bem mais recente, o empresário que decide aplicar métodos de gamificação, seja para impulsionar a produtividade de seu negócio, seja para efetivar controles tecnológicos de seu negócio, deverá ter novos cuidados, como, por exemplo, aqueles ligados à ideia de subordinação algorítmica, que, em efeitos práticos, pode ensejar o reconhecimento de vínculo empregatício, e que pode inviabilizar a atividade empresarial, como é caso de algumas empresas que operam por meio de plataformas digitais. 

Com o mesmo cuidado, o empresário se atentar ao aplicar métodos de gamificação para a estimulação de vendas ou atingimento de metas de resultado. Isso porque, embora envolvido em um aspecto visual moderno e muito mais interessante do que regras e políticas, o uso de games não deve ser feito se abandonando as regras e políticas que sempre vigeram. Afinal de contas, sem uma camada burocrática bem definida, o uso dos games poderá ensejar riscos trabalhistas do mesmo modo que políticas de resultados anteriores já geravam no passado. 

Por fim, é imprescindível que o empresário se recorde da necessidade de não tornar o ambiente de negócios agressivo ou explícito no que toca ao atingimento ou não de resultados, sob pena de resvalar, eventualmente, em condutas empresariais que podem ser configuradas como predatórias, tanto no aspecto do assédio moral, quanto do dano moral em razão de exposição de colaboradores que não performam, em determinado momento, em níveis elevados, e são expostos em rankings de desempenho e avaliação. 

A avaliação de riscos na inserção da gamificação nas relações de trabalho, portanto, é fundamental para que a aplicação destes métodos super bem-vindas à nova estrutura organizacional das empresas seja vitoriosa. 

Afinal, a gamificação, se bem implementada, promove a satisfação pessoal dos colaboradores, que, de olho nas recompensas e premiações, pode estimular a busca dos colaboradores por soluções inovadoras, atingimento de metas mais ousadas e um maior engajamento dos times. Além disso, a gamificação pode ser uma ótima ferramenta de gestão de equipe. 

Assim, fica claro que por mais que este novo modelo de estratégia de impulsionamento do negócio seja benéfico à atividade empresarial, é preciso tomar cautelas na sua implementação e avaliar os riscos. Afinal de contas, quando se fala de riscos trabalhistas, é sempre bom lembrar que a participação de um especialista é fundamental não só para uma bem-sucedida construção de um novo modelo, mas para que este novo modelo não se torne um gerador de problemas futuros.

 

 

Autores:

José Ricardo Haddad
[email protected]

Luiz Paulo Salomão
[email protected]

Willian Aparecido Ferreira 
[email protected]

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